quarta-feira, 4 de abril de 2012

Madame Satã. De volta e para o futuro.



São Paulo é uma cidade multicultural. Tudo que você precisar você encontra. O que você gostar, por mais que seja peculiar procure, pois, vai achar em São Paulo. A noite, é a cidade das tribos, dos sons e assim os boêmios vão levando a vida como gatos, de bar em bar.

A prova de que para todos os gostos há sempre uma boa opção é o retorno à noite paulistana do Madame Satã.  Pois é, o velho casarão abre suas portas novamente, agora em grande estilo. Recém comprado e reformado pelo pessoal da DJ Club e Nostro Mondo, o agora Madame Underground Club volta a cena com cara de balada chique da Vl Olímpia.

Aberto de quinta a domingo tem, não somente a reforma como mudança; para quem estava acostumado só com as noites, agora poderá desfrutar de atividades durante o dia como cursos de dança, exposições e peças de teatro. http://epocasaopaulo.globo.com/sem-categoria/madame-sata-reinaugura-com-musica-alternativa-e-pecas-de-teatro/

Fui conferir a casa, um mês depois da inauguração. Comentava-se na internet das filas intermináveis que circulavam o casarão nas primeiras semanas. Achei melhor esperar baixar a poeira.

Noite de sexta-feira (pela programação, a mais gótica das noites).

Meu namorado e eu chegamos na porta do Madame às 23h15. Uma modesta fila já estava se formando. É surpreendente a pintura externa, nem parece o mesmo lugar. A casa abre as portas por volta de 23h30. Típico de muitas baladas, somos mantidos na porta para dar a impressão de estar cheio lá dentro para quem passar.

Na fila, um pouco mais a frente havia um grupo de rapazes, um deles saiu e voltou com algumas garrafas tipo long neck de cerveja. Um dos seguranças (porque são vários) veio retirar as garrafas da fila. Os rapazes viraram a cerveja rapidamente e entregaram as garrafas ao segurança. Será que não podemos manejar vidro na fila? Os seguranças andam de um lado para o outro investigando, procurando, especulando as pessoas. Imaginei que um deles fosse me interrogar enquanto tentava guardar um batom no cano longo da bota.

A entrada:
Se você, mulher, colocar seu nome na lista e conseguir a façanha de entrar até meia noite, não paga entrada. Homem, você não tem vez.Há duas opções: ou são R$ 25,00 de entrada ou R$ 50,00 de consumação. Uma hostes simpática e devidamente trajada não pareceu se preocupar quando eu disse que tinha nome na lista. Vipou minha comanda sem olhar se era verdade ou não. Na dúvida meninas, melhor não arriscar. Dentro:
No térreo, o que mais chama a atenção são gigantes espelhos emoldurados que forram o interior das janelas da casa. As paredes de tijolos foram substituídas e não há uma vela sequer, tudo  em neon e laser. Todos os artigos de decoração como a jukebox, o crânio ou aquele imensa redoma forrada de velas e suspensas por correntes foram retiradas e substituídas por artigos luxuosos, de um horror fingido.
Algumas gárgulas substituíram a sombra do morcego que batia asas na parede. No lugar das mesas descascadas, sofás de couro em formato de S. Todos se acomodam muito bem no térreo.
No salão principal, um DJ toca um som diferente do da pista. No meu ponto de vista, alto demais. Para ouvir o que está rolando no subterrâneo é necessário chegar até o meio da escada e se concentrar bem. Na antessala, ao invés dos sofás, uma pequena exposição, a chapelaria e o balcão para pagar a comanda.

Bar:
O bar antigo tinha o que o povo precisava: barmen interessantes para as meninas, bebida barata, ruim mas barata, para todos. Água, refris e cervejas giravam em torno de R$ 3,00/ R$ 4,00. 
Destilados por volta de R$ 6,00 e drinks a R$ 8,00. Seguem, aproximados, os preços atuais: 

Água 6, 00; Refrigerante 7, 00; Cerveja 8, 00; Pinga 15, 00; Drinks 20, 00; Destilado 22, 00.

Surpreso? Pois a dica é: procure um marreteiro mais próximo, porque os preços do novo Madame são de levar ao coma (não alcoólico) seus antigos frequentadores.

Bar de baixo e Áreas externas:
Tudo, inclusive o buraco, está em seu devido lugar, exceto pela mobília nova e mais bem planejada. Interessante reparar a quantidade de pessoas na área externa fumando, antigamente isso era feito na pista. Spots foram espalhados pela parte interna e sem dúvida caíram muito bem. O andar de baixo conta com uma mudança, pra mim a melhor de todas mas não falarei. Vá lá conferir. 

Banheiros:
Azulejado e já no começo da noite, imundo. É um caso perdido.

Pista:
Esse era o meu medo. Muitos lugares undergrounds por aí tentaram em vão alcançar o mistério e a intimidade efêmera da pista do Satã. Entre tanto luxo, os novos proprietários parecem ter percebido que o porão era a alma do casarão e qualquer estrobo a mais poderia pôr tudo a perder. Então, um brinde a pista! Praticamente intocada. Escuridão e sombras se completando. Quem reclamava do calor, não tem mais motivos, o ar-condicionado é parte integrante. 

Fomos embora às 4 da manhã e não haviam mais de 300 pessoas lá dentro. 
Vários podem ser os motivos. Talvez assim como eu, o público esteja esperando o furor da inauguração passar ou muitos ainda não sabem que o casarão foi reaberto; alguns se negam a comparecer. Ouvi amigos dizendo que preferem manter na mente o que o madame foi um dia e deram por encerrado esse ciclo; o tempo passou, já não somos mais tão novinhos…talvez uma nova geração ocupará essa casa. Levada até lá pelas histórias que nós contamos ou o preço seja maior do que o bolso pode aguentar.

O fato é que desde que foi fechado, há cinco anos atrás, o público fiel do Madame ficou carente. Eu mesma, tentei ir a muitos lugares similares mas nada se comparava.
O Madame era o lugar certo para fazer amigos ou para se isolar completamente do mundo. Pessoas simples em um lugar simples, virando a noite na escuridão. Se você tinha dinheiro para entrar pagava, se não tinha, dava-se um jeito. Se bebia demais poderia extravasar na pista ou ficar quietinho no seu canto. Que mal tem? Não incomodava e não se era incomodado por ninguém. Uma sensação estranha de liberdade entre paredes e de fazer parte de algo surreal. 

Agora, é uma nova fase. Tudo bonito, cult e moderno. E claro para a balada fluir é necessário uma dúzia de seguranças. Porque, afinal, uma pessoa leva em seu genes um pouco do lugar onde foi criada, e nós fomos criados no Madame Satã portanto, herdamos sua fama. 



                                     

                                   

 












Infos: http://www.djclubbar.com.br/novo/agenda/?p=1174

Um comentário:

  1. TRABALHEI NO CASARAO POR MAIS DE 8 ANOS
    OU MELHOR A FASE DECADENTE COMO O NOVO PROPRIETARIO DISSE NUM DOS VIDEOS
    DA MINHA PARTE PAREI DE FREQUENTAR POR MOTIVO DE MUITA FRESCURA E UM POVO NADA HAVER COM A CASA OU MELHOR DIZENDO PLAYBOYZINHO PAGANDO DE GOTHICO OU DE UNDERGROUND. FUI POR 2X NO CASARAO E REALMENTE RESOLVI PULAR FORA VI QUE O ENCANTO DO CASARAO JA ERA TODO AQUELE CLIMA DE CASA SOMBRIA AGORA NAO PASSA DE UM PLAYCENTER NO MES DE AGOSTO (( NOITES DO TERRO))

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